:: Reino Inabalável

Talvez o seu mundo esteja assim: de cabeça pra baixo, de cabeça pro lado, ou para cima; bom, seja como for, seus pés já nao sabem mais por onde caminhar. Se pisam no preto, ou no branco; se pulam o obstáculo, ou se permanecem na calçada lisa, cheia de rachaduras.
O seu tempo tem dito a você a cada amanhecer que não vai dar para refazer, para transformar, para se alegrar.
Ei - diz o tempo. Eu sou mais rápido que você e seus sonhos! Esqueça, eu venci.
O despertador ao lado da sua cama se tornou seu mestre, ou talvez seu confidente. Porque, afinal, você e sua rotina já são tão íntimos, que você não tem mais forças pra mudar essa situação.
Sua família te vê como uma pessoa especial, e na verdade você é. Mas convenhamos, as expectativas exageradas sobre você têm sido como um pacote de cinquenta quilos nos seus ombros.
Você acorda, e começa um novo dia, que de novo não tem nada.
Você vai dormir, e seus pensamentos começam a falar com você, como se tivessem tomado litros de café e quisessem pôr a conversa em dia.
- Esqueceu de mim? - começa o Futuro. Eu dependo de você, das suas atitudes, das suas escolhas, de seus investimentos. Aliás, você poderia se dedicar mais por mim, não é mesmo?
O seu corpo já está tão cansado, e seus olhos estão implorando para fechar, que você adormece; tão inquieto quanto ao se deitar.
A sua vida na verdade sempre foi muito boa. Seus pais, apesar das diferenças entre vocês, são ótimos. Casados, ou talvez separados. Você sempre teve de tudo, nunca lhe faltou suprimentos. Afinal, eles possuem bons empregos que sustentam você.
Seus irmãos, apesar das brigas diárias, são alicerces que você aprendeu a dar importância.
Contudo, as dúvidas sempre estiveram com você. Será mesmo que sou importante? Para que eu existo? Os dinossauros realmente existiram? De onde surgiu o mundo?
Tenho uma notícia boa pra você. Você não é o único. Definitivamente você não está sozinho nesta história. Você não é o mais esquisito neste mundo, oh claro que não; a menos que eu não me conhecesse e não convivesse comigo mesma para saber disso.
Deixe-me dizer algo. Suas dúvidas não são empecilhos, mas sim escadas; se você souber utilizá-las.
Ah, como poderia me esquecer? Sua(eu) bela(o) namorada(o) gosta tanto de você, e até que o seu amor também é recíproco. Se divertem juntos, conversam e fazem planos.
Talvez você seja solteiro, assim como eu, e garanto que sonha ou espera por um(a) companheiro(a).
Mas lembre-se, todas essas situações na sua vida, não necessariamente serão esquecidas e resolvidas com o encontro de um parceiro(a). Todavia, você realmente gostaria que fosse assim, não é?
Ah, o nosso lado de viver na velocidade da luz sempre dá um grito para a Senhora chamada Ansiedade, que fica a espera do mesmo enquanto costura um lindo casaco de tricô. Afinal, ela adora conviver com a sua prima Pressa e sua amiga: a Dona Preocupação com seu marido, o Senhor Medo. São vizinhos há anos!
Todos os carregamos dentro de nós, e quando falamos em algo que os ameaçe, ah! Como eles se aguçam ainda mais!
Permita-me alertar: você não foi criado para ser controlado por eles, e muito menos por sua vida mais ou menos.
Me compreenda, se assim possível. Seus propósitos aqui nesta terra são maiores que tudo isso.
Maiores que seus sonhos, maiores que as brigas com a sua mãe, maiores que seus medos, mais altos que seus objetivos, e mais plenos que sua aparente vida feliz.
Dentro de mim e de você, existe um grande vácuo, um vazio do tamanho de Deus. E todas estas coisinhas do dia-dia só o fazem aumentar.
Bom, se eu fosse você não obedeceria ao seu pensamento que acabou de lhe pedir para parar de acreditar nisso tudo. Lembre-se, ele não gosta de ser contrariado de maneira alguma.
Se você o dominou, deixe-me lhe contar uma história...


Naquela manhã, ao me levantar e tomar meu agradável café, encontrei-o na rua lá de casa. Ele estava caminhando vagarosamente, mas tinha pressa em seu olhar. Algo dentro de mim impeliu-me a chamá-lo.
- Pare! - disse eu.
- Senhor, espere um pouco. Entre vai, aceita um copo d'água?
Seus olhos apenas me fitavam profundamente.
- Vejo que você veio de uma longa jornada. Suas roupas estão sujas, rasgadas. Seus sapatos
já não o auxiliam mais nestas estradas. Oh, veja as suas mãos! Estão cheias de calos e machucados!
Seus olhos estão pesados, como se estivessem carregando sobre si um grande peso. Seus cabelos estão maltratados pelo sol, e sua pele mostra a sequidão deste caminho que você vem seguindo.
Mas por favor, sinta-se á vontade por aqui. Afinal, gostaria de ouví-lo, senhor. - conclui.
Ele levemente acenou que sim, e entramos em minha casa.
Um momento leitor. Esse homem tinha algo que me intrigava. Seus gestos e olhares pareciam berrar aos meus ouvidos, e sua voz firme e suave os encantavam.
Não era um homem comum, apesar de ser indiscutivelmente simples.
Acomodados nas cadeiras de madeira na minha cozinha, as palavras que saíam da boca desse senhor inundavam-me e faziam meu coração burbulhar.
- Neste caminho que vim, diante de mim sempre estavam duas opções. - disse ele levando os olhos para a porta, como se lembrando da caminhada. Uma era fácil e rápida, como se abaixar e tomar água do lago mais próximo. Já a outra era árdua e difícil, algo como crer em mananciais em meio a grande seca.
- Senhor, você escolhia sempre a mais fácil, não é mesmo? - disse eu. Vejo que o senhor já está um pouco avançado em idade, jamais escolheria algum sofrimento em vez da facilidade. - conclui amavelmente.
- Jovem - neste instante ele voltou seus olhos para mim quase que me sugando - e disse:
- Se você precisasse salvar alguém no alto de uma colina, onde essa vida dependesse estritamente da sua ajuda, o que você faria? Subiria até o alto pelas trilhas fechadas e mata escura, ou, esperaria os bombeiros chegarem, talvez, a tempo, e realizarem o seu trabalho? - perguntou aquele senhor esperando claramente uma resposta sincera.
- Bom senhor - disse eu ajeitando-me anciosamente na cadeira. Dependendo da pessoa, certamente, eu esperaria os bombeiros, até porque se eu me arriscasse poderia perder a minha vida também, e então seriam duas mortes, não é?
Definitivamente aquele senhor não apresentava superficialidade, muito pelo contrário, era profundamente vívido. Diante disso ele disse:
- É por isso que estou assim, com as roupas rasgadas e as mãos machucadas. Muitas vezes precisei tomar atitudes que iam além das minhas vontades e idéias feitas. Contrariando totalmente os comentários de outras pessoas que me vinham a mente só de pensar em fazer isto, como minha família e amigos. Querido jovem - pegando minhas mãos e fixando os olhos no meu coração - Não queira se preservar tanto e deixar uma vida morrer. Nossas vitórias geralmente vem acompanhadas pela marca das nossas escolhas e renúncias, e jamais alguém salvará uma vida sem, no mínimo, se esforçar. Os bombeiros podem até realizar um bom trabalho, mas somente se eles chegarem a tempo.
Terminando de estremecer-me com essas palavras, aquele senhor se levantou e foi embora. Seus olhos focavam o infinito da estrada, e seus pensamentos, creio eu, aguçavam-se dentro dele para desafios futuros.
Assim como eu, querido leitor, seja edificado por esse homem. Não queria que sua vida seja simplesmente vista cheia de beleza, mas coberta de insatisfação. Supere, desafie e acredite: todos nós podemos e devemos agir imediatamente por aqueles que esperam. Sendo assim, cumpriremos o nosso tão simples propósito: o de ajudar e transformar vidas.